RESUMO: Uma breve história da psicologia

 

Hermann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, descreveu a psicologia quanto a sua história: “A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta”. Com essa frase ele trata de toda a ciência psicológica enquanto filosofia, trazida das indagações gregas do século V a.C. e por ter tornado-se uma Ciência em si no século XIX. Enquanto filosofia, na maior parte de sua história, sempre tratada de maneira introspectiva e metafísica, encontrou suportes no empirismo e tecnologia para desenvolver-se como ciência.

            A Psicologia, termo derivado das palavras gregas “psyché” (alma) e “logos” (razão, estudo), significa literalmente Estudo da Alma, alma essa que começou a ser investigada em períodos antigos e com ideologias que se complementavam, primeiramente introduzidas pelos filósofos gregos chamados Pré-Socráticos. Estes se preocupavam em definir a “alma” enquanto essência, percepção e ideia. Deste modo, a psyché é dividida em duas correntes de pensamento baseadas na percepção humana e sua finalidade, em sujeito e objeto, ou o mundo existia porque o percebíamos, ou o percebíamos pela sua existência. Assim formaram-se as correntes Idealistas, que admitem na ideia o sujeito e a percepção por fim causal e as Materialistas, que imaginam a percepção como sujeito, e a ideia como fim.

            É com Sócrates (469-399 a.C.), no entanto, que o estudo do Ser toma força e retoma as essências e o pensamento em uma distinção fundamental, com a explicação da Razão como sobreposição humana aos instintos e sua existência delimitando os seres humanos e os animais. Com isso, abrem-se caminhos para as fundamentações da consciência, objeto da categoria inteligível dos humanos, que teriam base na essência racional da mente.

            Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, foi além dos pensamentos anteriormente formados e propõe a separação do corpo e alma, do sensível e do inteligível, que estão em conjunto mutuamente na vida, mas após a morte, a alma, que seria aprisionada pelo corpo material, seria libertada e viveria eternamente nos devaneios das ideias que produziu durante a vida, ou seja, Platão teorizava sobre a morte essencialmente material, cuja razão intrínseca da alma, que eram as ideias, sentimentos, o ser, nunca desapareceria.

            Já para Aristóteles (384-322 a.C), discípulo de Platão, não era possível a separação corpo e alma, pois a alma é o ser essencial em si, e o corpo é a alma em sua forma, são uma mesma coisa, inseparáveis e indistinguíveis, assim, todo ser tinha uma alma, e o ser humano possuía uma alma inata além dos outros seres, a razão, que levaria o homem a descobrir os mistérios predeterminados do cosmos. Estudou a razão, a percepção e a sensação como objetos distintos entre si.

            Com a chegada do Cristianismo nas mãos do poderoso Império Romano, diversos povos foram dominados, entre eles os gregos, que dominavam a arte de pensar. Com o poder político e religioso em conjunto, ocorreu uma monopolização do saber. A Igreja, possuindo para si todo o conhecimento e sendo a única a decidir a forma de tratamento e desenvolvimento das ideologias, tratou de apossar-se também das ideias, tratando-as religiosamente e como base para sua crença.

            Assim, Santo Agostinho (354-430 d.C.), inspirado em Platão, distinguia corpo e alma, que segundo ele era a iluminação de Deus no homem, sua manifestação mais visível e em sua existência. O homem então estaria ligado em Deus pela alma e sua razão, podendo conhecer tudo pela própria iluminação interna, ou autoconhecimento, já que tudo do meio inteligível derivaria do Todo Poderoso.

        Com o surgimento do Protestantismo e a transição para o modelo de produção capitalista, o conhecimento que a Igreja mantinha e produzia foi posto em dúvida, com isso, ficou desgasta a relação entre Deus e Homem anteriormente proposto em bases metafísicas. São Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.) buscou por sua vez, reproduzir em bases racionais e aceitáveis as teorias religiosas, fazendo sua partida nas ideias aristotélicas de essência e existência, conseguindo justificar e consolidar o conhecimento vigente da Igreja e mantendo seu monopólio nas pesquisas e indagações sobre o Ser.

            No período do Renascimento, ocorrem a manifestação mercantilista e a descoberta de novos territórios, acumulando riqueza nas Nações. Com isso, o avanço tecnológico, político e ideológico tornou-se imprescindível para o desenvolvimento humano. As teorias idealistas e materialistas foram retomadas à pesquisa em construção do racionalismo e empirismo. René Descartes (1596-1659 d.C. ) foi um dos maiores contribuintes nesse período, formulando a metodologia no estudo científico e retomando a separação mente e corpo, possibilitando o estudo dos corpos orgânicos mais a fundo, que possibilitaram o embasamento da Anatomia e Fisiologia.

            Somente então no século XIX, a Ciência torna-se a área mais necessitada e focada, após a desconstrução da dependência do conhecimento à Igreja, expandindo os estudos de todas as áreas e componentes humanos para além da religião, assim tomando o empírico seriamente e à prova de explicações racionais.       Com o conhecimento sendo produzido aos montes, surgem as Ciências Sociais e Humanas, que têm como objeto de estudo o próprio homem. Com a possibilidade de estudos do cérebro, o homem passou a ser visto como objeto também na Fisiologia e Neurofisiologia, formando as bases da psicologia moderna. A Neurologia passa a tratar das relações das doenças mentais com o meio exterior, possibilitando maneiras racionais e empíricas de comprovação da influência do homem no próprio homem. Quase sempre, dessa maneira, eram estudados os fenômenos da Psicofísica, como os reflexos.

            Deram contribuições de extrema importância Fechner e Weber, com sua teoria de mensuração do fenômeno psicológico e Wilhelm Wundt, que desenvolve as primeiras atividades científicas psicológicas na Alemanha, formulando a concepção do paralelismo psicofísico, que descreve os tratamentos mentais de estímulos orgânicos e físicos, criando um método para examinar a consciência de indivíduos, denominado Introspeccionismo.

            Deste modo surge a Psicologia Científica em si, que toma por objeto de estudo a Subjetividade (mente, sensações, sentimentos...), formulando assim métodos de estudo e teorias aplicáveis nos diversos campos em que é dividida a psicologia. As principais teorias e abordagens psicológicas são formadas, cujas principais são o Funcionalismo, de William James(1842-1910 d.C.), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927 d.C.) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949 d.C.).

            O Funcionalismo trata as relações da consciência e “o que o homem tem que fazer” na sua vida para adaptar-se ao meio; o Estruturalismo buscava a consciência em seu estudo estrutural, de acordo com o sistema nervoso e o Associacionismo estuda a aprendizagem como concepção de ideias e sua mente, segundo sua utilidade e complexidade, criando assim a Lei do Efeito, que postula funções comportamentais à medida de estímulos.

     No século XX então as grandes teorias em que se reproduzem a Psicologia contemporânea foram o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise.

        O Behaviorismo é o estudo comportamental do fato psicológico e suas aplicações, nascidas com John B. Watson(1878-1958 d.C.), nos Estados Unidos; a Gestalt, criada pelo psicanalista Fritz Perls(1893-1970 d.C.), é a doutrina que busca a compreensão do todo pelo entendimento das partes; a Psicanálise, por sua vez, foi formulada por Sigmund Freud(1856-1939 d.C.) e tem por objeto o inconsciente.

           Assim desenvolveu-se toda a Psicologia Científica Moderna e seus parâmetros para os estudos que explanam sobre o ser e o mundo que nos cerca, buscando entrelaçar-se menos à Filosofia e certificando-se da metodologia correta para a produção do conhecimento.

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