RESUMO: TEMPOS MODERNOS (1936) - A visão do trabalho no famoso filme
O
trabalho é o meio pelo qual o homem usa e aproveita da natureza para inventar,
transformar e sobreviver. Seus métodos são muito difusos, visto a evolução da
tecnologia e a diferença da legislação ocorrida na história. Desde que a
primeira lâmpada de corrente contínua foi posta em funcionamento, por Thomas
Edison, uma grande e profunda mudança ocorreu: a Era da Eletricidade foi
conquistada, mas não só. O que realmente aconteceu foi o domínio da noite. A
eletricidade conquistou o descanso noturno dos trabalhadores, e esse foi apenas
o começo.
Em
Tempos Modernos, do ilustre Charles Chaplin, é retratada a Revolução Industrial
e seus pormenores, como carga de trabalho da época, o surgimento de máquinas
que têm a mesma força de trabalho que centenas de empregados e o impacto que é
causado na vida “moderna”. É a releitura do avanço tecnológico em sua mais pura
verdade.
Logo
na cena inicial, é traçado um paralelo entre um rebanho de ovelhas e pessoas
saindo do metrô, como uma crítica à vida automática que levam as pessoas,
dedicada somente a fomentar a correria da atuação industrial, crítica essa
muito bem vinda ainda nos dias de hoje. O horário de entrada é marcado na folha
de ponto de centenas de funcionários, representando a presença de horas de
trabalho bem pontuadas, apesar de excederem o que hoje é considerado uma
quantidade produtiva e saudável. Grandes máquinas repletas de engrenagens e
alavancas dão vida ao que será o dia laboral daquele rebanho de trabalhadores,
que devem se especializar progressivamente para não serem substituídos por autômatos.
O
presidente da indústria observa seus empregados por câmeras enquanto toca o
alarme de início de expediente, antecipando a crítica do trabalho moderno. A
produção dividida em etapas, com movimentos repetitivos e imparáveis, é o
fordismo endeusado como modelo de produção mais eficiente colocado em tela.
Vigília constante e condições análogas à escravidão são cenas recorrentes na
obra, com o ritmo aumentando constantemente e pausas para descanso
interrompidas por um emblemático “Volte ao trabalho!”.
A
necessidade de incrementar a produção e, por conseguinte o lucro, não está encerrada,
sendo sustentada pelos possíveis avanços tecnológicos. É isso o que se
demonstra quando algumas pessoas, bem vestidas, colocam para tocar uma vitrola
que apresenta um novo produto: uma máquina alimentadora, que promete eliminar o
tempo gasto no almoço dos funcionários. O caráter de exploração se intensifica,
assim desgastando o que são conhecidos como direitos fundamentais, principalmente
a dignidade da pessoa humana, elencada hoje nos nosso artigo 1° da Constituição
Federal de 1988. É importante notar que também é tecida uma grande crítica à
atuação ditatorial do Estado quanto às greves. Claramente o uso de um direito
básico do trabalhador é punido de forma tão bruta e desproporcional que o
personagem vivido por Chaplin é preso e tratado desumanamente, apenas por
exercer seu direito de greve.
Ainda
preso, é quando acontece uma das cenas mais emblemáticas do filme: o xerife
concede a ele a liberdade, e lhe entrega uma carta de recomendação de emprego,
mas Carlitos, como é conhecido no Brasil, fica em dúvida, pois segundo ele,
está muito feliz mesmo confinado. Trocar o trabalho da época, exploratório e
desumano, à custa da liberdade e da dignidade era uma pensamento que não
deveria ser descartado, foi isso que Carlitos nos disse. É melhor ficar preso
que trabalhar desse jeito, que viver assim!
Por
fim, em meio a um romance pitoresco, é dada a voz àquele que em nenhum momento
havia falado antes: Carlitos, como garçom, trabalhando sem parar, tem também
que se apresentar com outros empregados em forma de musical, mas ao cantar, ele
não se comunica em nenhuma língua humana conhecida e específica. Cantando em
linguagem universal, ele diz o que hoje conhecemos muito bem, o trabalho
degradante, sem garantias, com carga horária excessiva, não é digno de ser
exercido.
Graças
à automação e aos novos modelos de produção, muitas outras variantes
apareceram, acidentes ocorrem constantemente e greves devem ser asseguradas.
Mesmo agora, é evidente que a luta por direitos dos trabalhadores não acabou,
estando ainda sendo travada entre a sociedade e o Legislativo, denotada pela
última reforma ocorrida. Tempos Modernos traz não só uma crítica pontual, mas
que se mantém quase um século depois, apesar dos avanços conseguidos com a luta
pelos direitos humanos e pelas condições de trabalho.
Comentários
Postar um comentário