OPINIÃO: A idiocracia do Racismo no Brasil

 


             Originado na crença de que a espécie humana se divide em raças, classificadas por características físicas, e que determinadas raças são superiores a outras em técnica e inteligência, esse é o racismo. No Brasil, é absurda a visibilidade do preconceito de ordem racial, esgueirando-se pelo comércio, no mundo do trabalho; pela convivência social, no cotidiano; e pelas instituições estatais, inclusive as que deviam combatê-lo.

                Mesmo num país tão miscigenado, de variadas raças e etnias, há ainda formas tão cruéis de preconceito que as instituições não têm contra força suficiente para abafá-las. É importante lembrar que racismo não engloba somente o preconceito aos negros, como se pensa via de regra, mas qualquer raça sofre preconceito, sendo os de pele escura os mais afetados. Noto, todavia, duas formas de racismo distintas, o racismo puro e o racismo implícito (ou velado). O racismo puro mostra-se quando um indivíduo, ou conjunto de indivíduos direcionam conscientemente (fundamentado no teor discriminatório em si) sua agressão, física ou psicológica, ao portador de “raça” diversa com base em crenças racistas. 

            O racismo velado externa-se conscientemente ou não, encoberto sob formas diversas, seja religião, etnia ou metafísica. Exemplificando: o racismo puro denota-se no regime nazista e de supremacia branca; o velado se explicita em propostas de salário inferiores a pessoas com mesma formação, diferentes apenas em raça, ou mesmo na condição de vida nas favelas, dita como consequência de “vagabundagem”, mas que tem como fato gerador o racismo herdado do período escravocrata.

            A importância de se definir tais critérios para o reconhecimento do racismo fica clara no dia a dia, pois sabendo o que é, pode-se evitar e combater. A necessidade de evitar, por sua vez, é autoexplicativa em um Estado Democrático de Direito. É imprescindível que em uma democracia se garantam direitos iguais para todos. Não há como fazê-lo se o próprio povo, detentor do poder maior, o Soberano, segrega e até mesmo separa seus iguais com base em falácias de cunho biológico. É uma falácia o pensamento racista, pois é evidente que a cor da pele, estrutura corporal e forma capilar não influenciam em nada as estruturas produtivas de conhecimento e riquezas. A cultura e o meio molda o indivíduo, não a biologia genética por si. É óbvio que ao escolher alguém mais apto que outro para um serviço nem sempre é preconceito, porém é o preconceito que os torna menos aptos. Desde a colonização europeia, as raças estranhas à colônia tiveram menos prioridade em educação, saúde e moradia, acentuando o desgaste social presente no Brasil.

            Consequentemente, por causa dessa dívida histórica criaram-se as Cotas Raciais. Hoje usadas como porta de entrada à universidade e cargos públicos para os menos privilegiados, muitos grupos criticam a sua incorporação valendo-se do argumento meritocrático. Meritocracia, porém, é uma ideia além da realidade, visto que fatores imprevisíveis como causalidade e contingência influenciam em sua atuação real. Bastando-se de políticas conscientizadoras fracas e cotas, as Instituições Brasileiras tomam rumo a permanência do racismo social. É necessária uma política educacional bem fundada, tal como o incentivo de maior participação da população descriminalizada ao lado da política de cotas para haver real progresso de cunho social.

            Como implementar tudo isso é o real problema, estando o país enterrado em corrupção, educação fútil e produção universitária saturada; Instituições como a Família, que cumprem o papel de repassar aos filhos seus próprios erros; as Instituições de Ensino que somente visam produção numérica; as Instituições Religiosas que deixaram de se adaptar ao tempo, moldando suas crenças morais, como já fez um dia Agostinho... Todo esse emaranhado de senso comum é o que bloqueará o desenvolvimento científico e social brasileiro, caso não sejam apresentadas propostas complexas e objetivas de transformação social.

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